Eu podia sentir sua presença naquele quarto. O ar gélido corria em forma de brisa pela janela. Minhas mãos já não suportavam a dor de segurar a caneta tinteiro. Quando a estranha criatura entrou em meu aposento, o único movimento que fui capaz de fazer fora segurar aquela estrutura de metal para mais perto do meu corpo, temendo fazer qualquer barulho. Com a outra mão eu cobri minha boca com a força de um leão, na esperança de recear o grito que habitava em minha garganta. O piso de madeira rangia a qualquer movimento. Era impossível deduzir o que estaria fazer aqueles barulhos na velha madeira já apodrecida pelo tempo. A escuridão parecia engolir qualquer luz, ate mesmo a do luar, dando a estranha sensação de estar ainda mais escura. Algo sobre minha cabeça fazia a cama range levemente. Eu ouvia o som daquele móvel surrado sendo pressionado por algo mais pesado que o normal. A luz do lampião em cima da escrivaninha vacilava ameaçando se apagar por completo.
Segurei ainda mais firme a caneta e comecei a me arrastar para sair daquele lugar apertado. Enquanto eu me movimentava lentamente, o objeto fazia pressão em minha mão deixando as dobras de meus dedos brancos. Minha cabeça era preenchida com as várias possibilidades de como eu o ataria. Algum ponto vital seria útil. Um olho talvez. Com a besta cega seria mais fácil de conseguir fugir.
Eu já havia conseguido tirar todo o meu corpo debaixo da cama. Tentei me agachar para que ficasse mais fácil minha saída e comecei a me levantar lentamente. O medo me fazia de sua refém. Eu tentava não pensar no que poderia estar a espreita, apenas esperando sua isca cair na armadilha para finalmente conseguir o que queria.
Mas não havia nada em cima da cama. A cortina balança junto ao vento agora mais forte. Nuvens passavam alto pelo céu cobrindo qualquer vestígio de luz.
A única coisa que eu podia ter certeza era que o que estivesse ali alguns minutos atrás não estava mais, já havia saído mas não se esquecido de deixar um presente para mim.
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