domingo, 23 de abril de 2023

Parada de ônibus

     Eu vi quando você entrou. Daquele mesmo ponto todo santo dia. Sempre observo você. Você entra por aquela porta, passa pela catraca e senta no mesmo lugar. Naquele dia não foi diferente. Você entrou, a porta se fechou, você pagou e se sentou na seu lugar nos fundos. Eu vi quando você pegou seu celular para trocar de música. Parecia gostar. Queria saber o que estava ouvindo naquele dia. Queria saber o que se passava na sua cabeça. Quais pensamentos habitavam dentro de você. Seu olhar nunca dizia muito sobre o que estava pensando. Isso me deixava curioso. Você me deixava curioso. Eu observei você coçar seu braço. Pela primeira vez notei o que havia ali. Uma tatuagem de um fantasma que olhava curioso para uma flor. Achei engraçado. Aquilo dizia mais sobre você do que você mesma dizia saber. Aquele fantasma parecia com você. Me lembrava você. As janelas do ônibus estavam todas abertas. A brisa que percorria os espaços vazios ao seu lado, faziam seus cabelos dançarem. Lindos eu diria. Você olhou para a janela. Vi seus olhos percorrerem os borrões de carros que nos rodeava. O mundo lá fora era cheio. O ambiente aqui dentro estava vazio. Solitário. Você era solitário. Observei quando você se levantou, dando sinal que iria descer. Ele parou. Você desceu. Eu nunca mais te vi. Você nunca mais subiu naquele ônibus. Maldito ônibus. 

Eu, Fantasma.



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